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Foto: Reprodução | |
Apesar de a bancada do PDT na Câmara dos Deputados ter anunciado, na última terça-feira (6), o desembarque do governo Luiz Inácio Lula da Silva em resposta à queda do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, envolvido no escândalo dos descontos ilegais nas aposentadorias do INSS, o partido continua comandando o ministério. A informação foi divulgada pela jornalista Malu Gaspar em uma reportagem publicada em seu blog no portal do Jornal O Globo.
A decisão de sair da base do governo foi oficializada após reunião entre deputados da sigla com o líder na Câmara, Mário Heringer (MG), o ex-candidato à presidência Ciro Gomes, que faz oposição ao governo desde a posse, e o próprio Lupi. No entanto, mesmo com a saída do ex-ministro, todos os cargos relevantes na Previdência continuam sob influência do PDT, começando pelo ex-chefe de gabinete de Lupi, Marcelo de Oliveira Panella. Tesoureiro do partido, Panella segue ocupando posição estratégica na gestão de Wolney Queiroz, escolhido por Lula para substituir Lupi e que também é filiado ao PDT.
Panella tem uma longa relação com Lupi, trabalhando ao lado dele há décadas, e é peça-chave nas finanças do partido. Além de permanecer como chefe de gabinete, função que lhe garante remuneração de R$ 14,5 mil mensais, ele acumula o cargo de presidente do Conselho Fiscal da Brasilprev, divisão de previdência privada do Banco do Brasil, onde recebe mais R$ 7.280,00 por mês.
Conforme noticiado anteriormente no blog, dirigentes sindicais ouvidos pela equipe da coluna relataram ter sido abordados entre março e abril por um advogado indicado por Panella, que supostamente exigiu a contratação de uma consultoria como condição para incluir suas entidades no cadastro autorizado pelo INSS a fazer descontos. Panella nega as acusações.
Outro nome ligado ao PDT no ministério é Adroaldo da Cunha Portal, secretário do Regime Geral da Previdência. Formado em jornalismo, ele acumulou funções relacionadas ao partido nos últimos 26 anos, tanto em estatais quanto em cargos comissionados no Congresso. Mais recentemente, foi chefe de gabinete do senador Weverton Rocha (PDT-MA), outro pedetista com influência sobre o INSS. Ambos não são mencionados nas investigações conduzidas pela Polícia Federal sobre os descontos irregulares nas pensões de beneficiários do INSS, assim como Lupi.
Weverton, aliás, comunicou que a bancada do PDT no Senado – liderada por ele – permanecerá na base aliada do governo. Além de Weverton, os outros senadores do PDT são Ana Paula Lobato (MA), ex-suplente do atual ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino, e Leila Barros (DF). Portal, aliado de Weverton na Previdência, já ocupou posições importantes, como a presidência do Conselho de Administração dos Correios e o conselho fiscal da Telebras durante o segundo mandato de Dilma Rousseff.
Já Paulo Roberto dos Santos Pinto, secretário de Regime Próprio e Complementar, é próximo de Lupi e acumulou diversos cargos na administração federal na cota do PDT. Chegou a atuar como ministro interino do Trabalho no primeiro governo Dilma, substituindo Lupi, que foi demitido pela então presidente por suspeitas de corrupção.
Questionado se o partido entregará os cargos no ministério, o líder na Câmara, Mário Heringer, não se manifestou até o fechamento da reportagem. O espaço permanece aberto.
Lupi renunciou na última sexta-feira (2) após forte pressão do governo. Nos bastidores, assessores próximos a Lula avaliaram que, embora Lupi não seja alvo das investigações até o momento, tanto a demora de sua gestão em reagir às denúncias de descontos ilegais quanto sua comunicação confusa após o escândalo tornaram sua permanência insustentável.
Presidente do PDT desde 2004, quando sucedeu Leonel Brizola, morto no mesmo ano, Lupi lidera uma sigla com 17 deputados e vinha apoiando a agenda do Palácio do Planalto sem grandes atritos em comparação com outras legendas da fragmentada base governista. Após anunciar o desembarque, Heringer declarou que a bancada não fará oposição a Lula, mas agirá de forma independente.
O parlamentar afirmou ainda que o partido avaliará o cenário político visando as eleições presidenciais de 2026. Em entrevista ao GLOBO antes de deixar o ministério, Lupi disse que Lula seria seu candidato “independentemente de estar como ministro ou não”. O PDT lançou Ciro Gomes em 2022, mas apoiou institucionalmente a candidatura de Lula no segundo turno contra Jair Bolsonaro. Na ocasião, rompido com o petista, Ciro declarou que seguiria a orientação partidária, mas evitou citar o nome de Lula ou pedir votos diretamente para ele.
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