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Foto: Reprodução | |
No início de seu terceiro mandato à frente do Executivo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) costumava evitar citar diretamente seu adversário político Jair Bolsonaro (PL), referindo-se a ele apenas como “o outro”. No entanto, ao longo de 2025, o petista alterou sua estratégia. Entre janeiro e abril deste ano, Lula mencionou o ex-presidente, seus aliados ou a gestão anterior pelo menos 60 vezes — mais do que o dobro das citações feitas em todo o ano de 2024.
Em suas falas, Lula frequentemente aborda temas como a disseminação de notícias falsas e a suposta negação à ciência por parte de Bolsonaro. O levantamento realizado pelo portal 'Poder360' analisou as íntegras dos discursos e entrevistas do atual presidente divulgadas no site oficial do Palácio do Planalto. O período coberto pela análise foi de 1º de janeiro de 2023 até 23 de abril de 2025. Caso o ritmo de menções a Bolsonaro se mantenha no mesmo padrão observado em 2025, o número de referências superará as 100 citações registradas em 2024 e as 80 de 2023 até o final deste ano.
Principais temas das menções a Bolsonaro
Dentre as 60 citações feitas por Lula a Bolsonaro e seus aliados em 2025, os principais temas abordados foram:
Período pandêmico de covid-19 — especialmente ao criticar tratamentos alternativos defendidos por Bolsonaro e questões relacionadas à vacinação. O presidente frequentemente culpa o ex-mandatário por uma parcela significativa das mortes ocorridas durante a pandemia.
Relação entre político e eleitor — já chegou a classificar Bolsonaro como um “aloprado” que “só gosta de pobre na época de eleição”.
Referências a negligências e promessas não cumpridas — incluindo obras paralisadas e declarações consideradas mentirosas.
Tentativas de golpe de Estado e ameaças — como as dirigidas contra Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes.
Lula X Bolsonaro
Apesar da inelegibilidade de Bolsonaro até 2030, que o impediria de participar das eleições previstas para 2026, o chefe do Executivo vê com preocupação a influência política do ex-presidente no cenário atual. Pesquisa realizada pela AtlasIntel aponta que, se as eleições fossem hoje, ambos estariam em empate técnico, com Bolsonaro recebendo 45,1% das intenções de voto e Lula 44,2%.
A percepção pública sobre o terceiro mandato de Lula também contribui para a inquietação do governo. De acordo com o mesmo instituto, embora haja uma leve melhora em relação a pesquisas anteriores, 50,1% da população desaprovam a gestão atual. Em março, a aprovação era de 37,4%.
Programas que outrora foram pilares da popularidade de Lula, como o Minha Casa, Minha Vida e o Bolsa Família , parecem não engajar mais sua base eleitoral fixa. Uma das tentativas recentes do governo federal para atrair o maior público votante brasileiro foi a isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil.
Lula X Povo
A proximidade com o eleitor sempre foi uma marca registrada do petista. Eventos públicos com a presença de aliados continuam sendo maioria em comparação com outros tipos de agendas, como coletivas de imprensa. Desde a primeira entrevista coletiva conduzida sob a coordenação do novo ministro da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), Sidônio Palmeira, em 30 de janeiro, Lula só voltou a realizar esse tipo de interação uma vez — após acordos comerciais no Vietnã.
As falas com jornalistas são geralmente breves e acontecem de última hora, como no embarque após o enterro do papa Francisco. Apesar da promessa de tornar o Planalto mais “vocal” e próximo da imprensa, essa aproximação ainda não se consolidou.
Fator Sidônio
A influência do ministro da Secom é evidente na forma como Lula se comunica. No início da gestão, em janeiro, Sidônio Palmeira sugeriu que o presidente intensificasse os ataques a Bolsonaro, explorando a alta rejeição ao ex-mandatário. Contudo, as críticas indiretas deram lugar a um discurso mais centralizado. A recomendação de que Lula seguisse mais rigidamente os textos preparados ajudou a evitar novas gafes impulsivas.
Como mostrou o Poder360 em fevereiro, a estratégia de comunicação do governo tem focado principalmente no público jovem nas redes sociais, promovendo programas sociais considerados “jóias da coroa” da atual gestão.
Nem tudo é briga
Embora as menções negativas a Bolsonaro e seus aliados sejam frequentes, Lula tem demonstrado disposição para dialogar com figuras da oposição. Exemplos disso são as cidades de Sorocaba (SP) e Campos dos Goytacazes (RJ), administradas por apoiadores do ex-presidente, onde o chefe do Executivo participou de eventos recentes sem deixar que divergências políticas impedissem a cooperação. Lula atribui essa postura à necessidade de “deixar as diferenças de lado” e cumprir adequadamente os papéis institucionais.
Além disso, o presidente evita mencionar o período eleitoral que se aproxima. Não confirma uma pré-candidatura à reeleição nem indica um possível sucessor. Também não comenta os esforços da oposição para encontrar um nome que substitua Bolsonaro e enfrente Lula em 2026.
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